“Tranche de vie”*

23/03/2011

*Sol Sloboda escreveu este texto. Trata-se do programa distribuído durante exibição de “Mais Estranho que a Ficção”, no dia 22 de março de 2011.


É hoje! Mais Estranho que a Ficção no Terça tem cinema

22/03/2011

Hoje o Terça tem cinema dá início à programação 2011 com a exibição do filme Mais Estranho que a Ficção. O filme rola no miniauditório do Campus Curitiba (Av. Sete de Setembro, 3.165 – Rebouças), às 18h30, com entrada gratuita. No final, sempre tem bate-papo. Apareça!

Mais Estranho que a Ficção (2006)*

Dizer que Hollywood passa por um período negro não é novidade alguma.

Há uma crise criativa incrível no cinema comercial norte-americano. Parece que o medo de rejeição dominou completamente os roteiristas e, para evitarem o fim amargo dos que ousam, tudo que se produz hoje em dia tem uma cara insossa de enlatados. Filmes saídos direto da linha de montagem. O festival de clichês que se acumulou nas últimas cinco dédacas faz com que quase qualquer filme, drama ou comédia, seja previsível. Espantamo-nos quando podemos dizer:

– Nossa, que filme diferente!

O advento de Charlie Kaufman, com seu “Quero Ser John Malkovich”, foi um sopro de inovação em meio ao desgastado paradigma dos filmes americanos. Num misto de realismo mágico e absurdo kafkiano, Kaufman apresentou a luz no fim do túnel: é possível ser criativo e, mesmo assim, comercial.

No melhor estilo kaufmanesco, surge “Mais Estranho que a Ficção”, dirigido por Marc Foster e roteiro de Zach Helm. Um filme inovador, mas sem jogar a criança com a água do banho. Aproveita o que há de melhor no paradigma tradicional da escrita de roteiros — apresentação, ponto de virada, desenvolvimento, ponto de virada II, desfecho –, mas com uma temática diferente e metalingüística.

Harold Crick, interpretado por Will Ferrel, o queridinho cômico do momento, é um auditor da Receira Federal. Num dia convencional, ele começa a ouvir uma voz, narrando tudo que ele faz. Primeiro, ele pensa estar louco, mas logo percebe que esta sugestão não é satisfatória. Crendo-se ser um personagem numa história literária, ele procura a ajuda do professor de Literatura Jules Hilbert (Dustin Hoffman), para descobrir quem é e em qual história está.

O desenvolvimento é brilhante. Esperamos o tempo todo por aquele deslize que derrubará o enredo e transformará este filme em mais uma daquelas comédias simplórias. Mas não; “Mais Estranho que a Ficção” se sustenta, do começo ao fim, sem dar respostas fáceis, sem abrir mão da sua ludicidade, sem tentar nos enganar com clichês.

A prova de que arriscar não é um salto sem rede de segurança; de que é possível sim ser criativo, sem abrir mão do entrenenimento.

* Texto escrito por Henry Alfred Bugalho e publicado no blog O Crítico.


Escritores nas telas

15/03/2011

Como o primeiro filme da seleção de 2011 é “Mais Estranho que a Ficção”, selecionei alguns outros filmes que falam sobre escrita e escritores. A lista estava ficando gigantesca, mas resolvi cortar alguns que eram mais ou menos óbvios, além de outros que só mostram gente e uma máquina de escrever na mesma cena. Também fiz questão de excluir os filmes ruins e odiosos (na minha opinião).

Por isso, algumas omissões mais óbvias são, por exemplo, “Meu Primeiro Amor” (ela escrevia poemas, e faz um curso de escrita criativa, e se apaixona pelo professor, mas isso não é o mais importante) e “Pergunte ao Pó” (Fante se revirando no túmulo vendo seu alter-ego, Arturo Bandini, se transformando em algo bizarro).

É importante frisar que É ÓBVIO que faltam muitos filmes. Fiquem à vontade para sugerir mais nos comentários.

De toda forma, sem mais delongas, vamos à lista:

O Carteiro e o Poeta (1994)

Pablo Neruda é exilado na Itália. Praticamente sem contato humano, exceto a entrega de correspondência diária. O carteiro, por sua vez, começa a aprender a beleza da poesia, talvez menos como escrita por si, mas como uma forma de enxergar o mundo.

Barton Fink (1991)

Filme dos Irmãos Coen, o que já diz muito. John Turturro (grande ator subestimado) faz o personagem título, encarcerado num hotel, obrigado a escrever um roteiro para um filme sobre lutas. E, bem, é um filme dos Coen. Qualquer detalhe a mais estragaria o filme.

Adaptação (2002)

Esse filme repete a dobradinha de “Quero Ser John Malkovich”: Spike Jonze na direção e Charlie Kauffman nos roteiros. Passamos esse filme no fim do primeiro ano do clube. A história é a do próprio Charlie (e seu irmão Donald) tentando escrever um roteiro que adapte para as telas o livro-reportagem “O ladrão de orquídeas” de Susan Orlean. Até certo ponto. Depois o filme vira outra coisa.

As Horas (2002)

Este é baseado num livro de mesmo nome que, por sua vez, deriva do “Mrs. Dallway”, um dos clássicos de Virgínia Wolf. No filme acompanhamos três mulheres de épocas diferentes. A própria Virgínia, em vias de acabar com a própria vida, uma jovem mãe de família, leitora do tal livro e, por fim, uma Mrs. Dalloway contemporânea. Todas as histórias se cruzam e, no fim, tudo faz sentido.

O Livro de Cabeceira (1996)

Este é mais complicado. Mas, vamos tentar. É a história de uma menina que é filha de um escritor. Todo ano, no seu aniversário, o pai pinta seu rosto com ideogramas japoneses. Isso deixa ela alucinada com caligrafia e desenvolve uma tara por ter seu corpo escrito. Até que ela conhece o Ewan Mcgregor, que tem uma caligrafia terrível, mas é um bom escritor. Aí ela decide, ela própria, começar a escrever, meio que como vingança em relação ao editor do pai dela. E isso, pelo que me lembro, são só 30 minutos iniciais do filme.

Barfly (1987)

Baseado na obra de Charles Bukowski. Quem conhece o velho Buk sabe que ele, em geral, escreve sobre si mesmo. Ou seja: beber, transar e escrever (perdendo muitos sub-empregos no meio do caminho). E, como o personagem central é o Henry Chinaski, seu mais célebre alter-ego, o filme não foge muito disso.

O Iluminado (1980)

Você não viu esse filme? Sério? Bem, o máximo perdoável é não se lembrar que havia um escritor, mas o personagem de Jack Nicholson era um dramaturgo em busca de inspiração. “Muito trabalho e pouca diversão, fazem de Jack um grande bobão”.

Desejo e Reparação (2007)

Um erro infantil tem consequências devastadoras e a imortalidade da ficção é uma das poucas possibilidades de redenção. Qualquer palavra a mais, caso você não tenha visto, estragaria a sessão. Além de tudo, tem uma fotografia bonita de doer.

Desconstruindo Harry (1997)

Woody Allen é, também, escritor (e jazzista, e diretor, e ator, e roteirista e já fazia stand up quando a moçada do CQC nem existia, quem dirá suas fraldas). Por isso é difícil apontar um filme onde essa marca seja mais pesada. Fico com “Desconstruindo Harry” mais por estar centrada na figura de um escritor, que passa o filme lidando com seus personagens, que não deixam de ser manifestações de si mesmo. Uma curiosidade: o Robin Williams não aparece no filme e, por isso, não é creditado no início.

Louca Obsessão (1990)

Um escritor, que é o James Caan, sofre um acidente numa área isolada e fica aos cuidados de uma enfermeira que não só é a Kathy Bates (atenção para o sobrenome), como é, literalmente, louca pelos livros dele. Quando ela descobre que o personagem favorito dela vai morrer no próximo livro, ela surta.

Menção honrosa: Johnny Depp

Ele interpretou escritores em “Medo e Delírio em Las Vegas” (1998), “Em Busca da Terra do Nunca” (2004), “Janela Secreta” (2004) e “O Libertino” (2004). Além disso, ele faz um travesti cubano em “Antes do Anoitecer” (2000), filme com o Javier Barden que conta a história do escritor Reinaldo Arenas.


“Mais Estranho que a Ficção” tem herói tímido, medíocre e irresistível*

11/03/2011

A idéia não é nova, mas ainda prende a atenção de platéias. “Mais Estranho que a Ficção” leva ao cinema uma história dentro da outra. Tá, “Show de Truman” (1998, com Jim Carrey) e “Adaptação” (2002, com Nicolas Cage) também –só para citar dois filmes recentes que brincam com a metalinguagem e dão certo. Agora, o mais estranho nesta ficção, que estréia hoje (12), é como ela consegue escapar da prateleira dos trambiques cinematográficos.

Escrita pelo estreante Zach Helm, a comédia apresenta Harold Crick (Will Ferrel, ótimo), um tragicômico auditor da Receita Federal. Solitária, sua vida é guiada por números. Em cada um dos 32 dentes vão 72 escovadas, para ajeitar a gravata gasta menos de 60 segundos, seu intervalo no trabalho é de 20 minutos.

E por aí vai, diariamente, até uma voz feminina irromper em seus pensamentos, narrando suas ações e sensações. Esquizofrenia? Não, conclui Crick, pois o vocabulário “dela” é melhor. A narradora onisciente é a escritora britânica Karen Eiffel (Emma Thompson), conhecida por assassinar seus personagens no fim das tramas, e Crick é protagonista de seu romance. Sabendo de sua morte iminente, ele vai à caça da escritora e da própria vida.

Vale notar as inúmeras referências aos Beatles durante o filme. Harold é um “taxman” (música do disco “Revolver”), há tomadas na rua Abbey Road (capa 12º álbum do grupo), a assistente de Eiffel, interpretada por Queen Latifah, chama-se Penny (da canção “Penny Lane”). O filme também recorre à imagem da maçã verde, símbolo da Apple Corps, gravadora do conjunto de Liverpool.

Apesar das comparações com os roteiros de Charlie Kaufman (“Adaptação”, “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”, “Quero Ser John Malkovich”), “Mais Estranho que a Ficção” segue uma linha mais amena, menos sombria. É um Kaufman mais comercial, vá lá. Tem açúcar, bastante risadas e um pouco de auto-ajuda. Ainda bem que, ao fugir da pieguice, pelo menos até o desfecho, a obra dá o que promete: um personagem humano como raramente se vê no cinema hollywoodiano.

* Texto de Diógenes Muniz, publicado em 12/01/2007 na Folha Online.


Iniciando os trabalhos de 2011: Mais Estranho que a Ficção

09/03/2011

O Terça tem cinema inicia as exibições de 2011, em março, com o filme Mais Estranho que a Ficção.

Dia: 22 de março
Hora: 18h30
Local: miniauditório do Campus Curitiba da UTFPR

Confira ficha técnica e assista ao trailer.

Ficha técnica

Título original: Stranger Than Fiction
Gênero
: Comédia
Duração
: 113 min
Ano de lançamento
: 2006
País
: EUA
Estúdio
: Mandate Pictures / Three Strange Angels / Crick Pictures LLC
Distribuidora
: Columbia Pictures / Sony Pictures Entertainment
Direção
: Marc Forster
Roteiro
: Zach Helm
Produção
: Lindsay Doran
Música
: Britt Daniel e Brian Reitzell
Fotografia
: Roberto Schaefer
Direção de arte
: Craig Jackson
Figurino: Frank L. Fleming
Edição: Matt Chesse
Efeitos especiais: Digital Dimension / Proof / Fiction Science / Intelligent Creatures Inc. / MK 12 / Mokko Studio / Klon Films / Bar X Seven / Double Negative
Elenco: Will Ferrell (Harold Crick), Maggie Gyllenhaal (Ana Pascal), Emma Thompson (Kay Eiffel), Queen Latifah (Penny Escher), Dustin Hoffman (Prof. Jules Hilbert).

Sinopse
Certa manhã Harold Crick (Will Ferrell), um funcionário da Receita Federal, passa a ouvir seus pensamentos como se fossem narrados por uma voz feminina. A voz narra não apenas suas idéias, mas também seus sentimentos e atos com grande precisão. Apenas Harold consegue ouvir esta voz, o que o faz ficar agoniado. Esta sensação aumenta ainda mais quando descobre pela voz que está prestes a morrer, o que o faz desesperadamente tentar descobrir quem está falando em sua cabeça e como impedir sua própria morte.

Trailer