Ladrões de Bicicletas é um daqueles filmes que poderíamos colocar na gaveta dos filmes tristes. E que isso não diminua seu interesse por ele, e nem limite a variedade de leituras que podemos fazer do mesmo. Afinal, o filme não é só triste. E não nos cabe rotular…
Com muita sutileza, cenas extremamente delicadas, acrescente a isso uma trilha sonora melancólica e pronto! A tristeza vai contagiando a todos, mas não se preocupe, isso não é nem de longe ruim. Não tem como não se comover. É como a tristeza do dia-a-dia, das notícias dos jornais, da realidade, por vezes, da nossa própria vida.
O filme faz parte do movimento neorrealista do cinema italiano, e é dirigido pelo premiado Vittorio De Sica. É um documento. E pelo contexto no qual estava inserido, na Itália pós-guerra, o longa acaba sendo o retrato de uma sociedade destruída e carente de todos os bens essenciais para viver.
Apesar de tudo isso, o filme começa bem e esperançoso.
O pai, Antonio Ricci, que está desempregado há uns três anos, consegue logo no início da trama um emprego: colar cartazes de cinema. Entretanto, a condição era que o contratado possuísse uma bicicleta para assim, facilitar as tarefas por toda a cidade. O veículo existia de fato, mas estava penhorado, assim como infinitos bens dos italianos, em busca de um pouco de dinheiro no final da década de 40. A necessidade é o que move o filme. Penhorando outros bens, a família de Ricci consegue recuperar a “tal” bicicleta. O futuro era promissor.
No primeiro dia de trabalho de Antonio Ricci, a bicicleta é roubada. E a partir daí a trama ganha outro ritmo. Em busca da bicicleta, a esperança da família, Ricci, acompanhado por seu carismático filho Bruno, segue por toda a cidade em busca da esperança perdida, ou melhor, da bicicleta.
São do pequeno Bruno algumas das cenas mais tocantes do filme, na maioria das vezes sem falas. Com uma expressão facial, uma corridinha, ou com o casaco cobrindo a cabeça na chuva, Bruno nunca reclamou, nem de fome, nem de cansaço: ele é o fiel escudeiro de seu pai. E no final, com os olhos cheios de lágrimas enquanto limpava o chapéu do pai, Bruno ganha o filme.
Se Ricci encontra ou não a bicicleta, se a situação melhora para a família, você vai descobrir. O fato é que a relação com a vida real é inegável. A bicicleta é uma metáfora, é aquilo que nos move diariamente. É a esperança de que sempre, sempre algo bom vai nos acontecer. E o grande mistério é por que às vezes acontece, e às vezes não…?
Ladri di Biciclette é um documento histórico. É um filme cruel por mostrar uma realidade tão bruta, é um filme doce pelas bolas de sabão que passam despercebidas, é um filme sobre esperança numa situação extrema, mas, sobretudo é um filme que fala sobre o que o homem é capaz de fazer…
*Ivana Lemos escreveu este texto. Trata-se do programa distribuído durante exibição de “Ladrões de Bicicleta”, no dia 30 de agosto de 2011.